segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Resenha A resposta



Sinopse: "Uma história de otimismo ambientada no Mississippi em 1962, durante a gestação do movimento dos direitos civis nos EUA. 
Eugenia Skeeter Phelan acabou de se graduar na faculdade e está ansiosa para tornar-se escritora, mas encontra a resistência da mãe, que quer vê-la casada. Porém, o único emprego que consegue é como colunista de dicas domésticas do jornal local. É assim que ela se aproxima de Aibellen, a empregada de uma de suas amigas. Em contanto com ela, Skeeter começa a se lembrar da negra que a criou e, aconselhada a escrever sobre o que a incomoda, tem uma ideia perigosa: escrever um livro em que empregadas domésticas negras relatam o seu relacionamento com patroas brancas. 
Mesmo com receio de prováveis retaliações, ela consegue a ajuda de Aibileen, empregada que já ajudou a criar 17 crianças brancas, mas chora a perda do próprio filho, e Minny, cozinheira de mão cheia que, por não levar desaforo para casa, já esteve por diversas vezes desempregada após bater boca com suas patroas. Uma história emocionante e estarrecedora onde a cor da pele das pessoas determina toda a sua vida. Um livro que, devido ao seu tema, chegou a ser recusado por quase sessenta editoras antes de ser publicado. "


Se você está procurando um drama com um conteúdo de reflexão, esse é o livro certo. Já possuía esse livro há algum tempo na minha prateleira, mas por algum motivo sempre acabava deixando para depois. Até que esse mês o vi lá e decidi parar de enrolar. O livro é tudo, menos o que eu esperava. 

Ao ler a sinopse, não imaginava o nível de profundidade que esse livro traria. Narrado em três pontos de vista, sendo dois deles de mulheres negras e um por uma mulher branca, vemos diferentes lados de uma mesma história que tem o poder de te fazer mergulhar na leitura. Três mulheres de personalidades fortes vivendo em uma época em que o racismo e a segregação ditava a vida nos EUA. 

O primeiro ponto de vista é de Aibeleen, uma empregada negra que já passou por diversas famílias e consequentemente, cuidou de diversas crianças. Sua voz é poderosa e acredito que ela seja a personagem que traz mais momentos de reflexão sobre o que os negros viviam na época. Cuidando de uma pequena menininha, ela traz à tona como crianças são inocentes, muitas delas tendo uma relação maternal com ela, mas como isso muda conforme elas crescem e aprendem que o negro é inferior, que passa doenças, que é sujo. Sua narração traz momentos fortes, que é preciso parar e tomar fôlego. É nesse cenário que ela começa a indagar se um dia haveria mudanças e como elas ocorreriam: quando negros não usariam mais banheiros separados (situação em que é colocada) e quando começariam a ver eles somente como pessoas. 

O segundo ponto de vista é de Minny, uma cozinheira com talento nato, mas que nunca consegue manter seus empregos por não conseguir manter a boca fechada e levar desaforo de suas patroas brancas. Minny, além de mostrar o lado do racismo que sofria, tem um outro assunto relevante em sua narrativa: violência doméstica. Sua voz é mais leve, mas de certa forma consegue causar tanto impacto quanto a narrativa de Aibeleen. Sua narrativa passa em grande parte em seu novo emprego para a patroa branca sem noção e que parece não ver limites entre brancos e negros (que bom seria se todos fossem assim). 

Através dessas duas personagens seguimos o cotidiano dos negros na década de 60 e apesar da história ser fictícia, os acontecimentos chocam ao lembrar-se que são baseados em fatos reais. A segregação era forte no sul dos EUA, mas ainda pior do que isso, era o que acontecia com aqueles que quebravam as regras. Confesso que muitos momentos tive que parar a leitura e refletir sobre o que acontecia. E o sentimento depois de lida a passagem ficava em minha mente por horas. 

Por fim, como terceiro ponto de vista, temos Skeeter. Jovem branca recém formada, seu sonho é ser escritora. Ao começar a escrever uma coluna com dicas domésticas, se aproxima de Aibeleen e começa a se lembrar de sua relação com sua antiga empregada Constantine. Assim, resolve escrever um livro sobre empregadas negras e seus relacionamentos com os patrões brancos. Através desse livro, Skeeter começa a ter consciência de muitos atos racistas que ela fazia até mesmo sem perceber e mudar seu comportamento. Mas o mais relevante de sua narração é sua relação com suas amigas, a maioria extremamente racistas, e como essas se portavam com os negros. Além disso, vemos nessa protagonista um lado feminista forte que começava sua ascensão nos EUA. Ao contrário de suas amigas que já eram casadas e algumas com filhos, Skeeter não tinha nenhuma vontade de arrumar um marido tão rápido, mas sim perseguir sua carreira de escritora em uma cidade grande. 

Através desses três pontos de vista, temos um relato extremamente doloroso e chocante sobre a segregação racial. Não espere um livro leve. Ele vai te chocar, ele vai ter passagens que vão parecer um tapa na cara. E apesar de ser um livro grande, você não conseguirá largar a leitura. Ao final, ele não sairá da sua mente por dias, mas não irá se arrepender. É um livro que com certeza irá abalar suas estruturas. Comecei a ver o mundo de outra forma. Apesar de já saber dos privilégios dos brancos, a forma como isso é jogado em sua cara no livro traz uma reflexão ainda maior. É impossível terminar o livro e não se sentir um pouco como Skeeter. E apesar de estarmos em 2018, sabemos que a luta ainda existe e é diária; e todos devemos fazer nossa parte. 

“Não era esse o objetivo do livro, afinal? Que as mulheres se dessem conta: Somos só duas pessoas. Não há tanto assim a nos separar. Nada do que eu havia imaginado.” – Kathryn Stockett. 

Em 2011 saiu a adaptação cinematográfica do livro com um elenco de peso: as rainhas Viola Davis e Octavia Spencer, Emma Stone, Bryce Dallas Howard e Jessica Chastain, concorrendo à diversas premiações. 

Espero que gostem da dica e deem uma chance para o livro – não irá se arrepender. 

Mavi Tartaglia


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