sábado, 20 de novembro de 2021

Riso Sagrado




Desde pequenas, as mulheres têm um papel a representar à sociedade. Isso nos é colocado desde à infância.

Cruzem as pernas, falem baixo, não soltem gargalhadas. Meninas devem ser comportadas e discretas. O quanto perdemos de nossa essência, nossas raízes, com todos esses caminhos? Nós somos soterradas, cada vez mais fundo, por uma sociedade hipócrita e machista. Nossa essência sagrada fica tão no fundo que quase a perdemos. Mas ela ainda está ali.

Está ali quando decidimos dizer não. Quando olhamos para o mundo e dizemos BASTA! Um grito que está ecoando para todas as nossas irmãs ao redor do mundo. A mulher já foi maltratada, mutilada, violentada por tempo demais. De tantas formas que são incontáveis.

Chega de nos comportamos como outros querem. Nós somos mulheres. Ser mulher, desde o momento que nascemos, é ser guerreira. É secar a lágrima em meio a batalha e seguir enfrentando seus demônios. Ser julgada, ter o dedo apontado, ser escondida. Bom, eu venho aqui para mostrar o dedo do meio para vocês.

Eu vou rir alto. Vou sentar como quero. Dizer o que quero. Vestir o que quero. O obsceno me fascina. A selvageria me liberta.

O caos está em todo lugar. O caos está dentro de nós, mas em meio a ele nos encontramos. No meio de nós nos encontramos. As mulheres sabem que quando estamos em grupo há algo que acontece ali. Segredos e risadas compartilhadas somente entre nós. A verdade, no fim das contas, é que eles têm medo de nós.

Os sorrisos falsos... Esses são guardados para essa sociedade que vivemos. O riso verdadeiro é guardado para pessoas especiais, momentos especiais. E o riso sagrado... Ah, esse é guardado para os momentos que vamos explodir, quando só há escuridão e parece não haver mais nada.

Derruba suas lágrimas, mulher. Derruba o que tiver que derrubar. Quebra prato, quebra a casa. Quebre até achar que está rachando também. A tempestade passa. E o riso, no fim do dia, é o único que resta. Sinta-se florescer de novo. Sacuda as saias e tire a poeira.

Ele é a cura através do prazer, do que te deixa em júbilo. Não precisa ser sexual. Quando falamos no prazer, imediatamente nos levamos para o sexual. É esquecido que há diversas formas de ter o prazer, de ter aquela sensação de vida crescendo dentro de si. As vezes chegar até esse prazer é muito simples. É criar uma conexão com o que vai além. É por isso que danço. E através da dança, me reuni com mulheres tão fortes e sujas quanto eu. Com elas o riso sempre é melhor. E o riso na dança... Esse riso chega a ser afrontoso!

Falam que quando você conta uma história triste, mas rindo da situação, é porque você encontrou a cura. A mulher tem esse poder. Encontrar a cura onde parece não haver. Criar onde parece infértil. Ser mulher é ter vida. O prazer... Há prazeres que somente o riso traz. Há risos que são tão esplêndidos e vem de um lugar tão no fundo que dói a barriga. Esse riso quebra as barreiras. É o riso que traz as lágrimas de cura. O riso sagrado.

Mavi Tartaglia

sábado, 6 de novembro de 2021

Café de vó

 



Ao contrário da maioria as pessoas, eu não gosto de café. Quando preciso tomar, coloco muito açúcar. Mas tem um que é especial. O café da minha vó. Ele é doce, quente, e nunca encontrei um café igual ao dela. Quando está frio, penso no cheiro e sabor de seu café. Desejo sua pipoca, também diferente de todas. Bate a saudade da família, de estar junto. Desejo aconchego. Bate o sentimento que para seguir alguns sonhos, é preciso abrir mão de algumas coisas. Estabelecer distância. Mas a lembrança e o sabor são eternos. Então quando a vejo, peço um café.

Mavi Tartaglia


sábado, 30 de outubro de 2021

Ancestrais

 


Música: Los Cuatro Elementos

É dia 31 de outubro. A noite que espero todos os anos. O dia dos mortos. Um ciclo sem fim. Tudo que começa tem um fim. E todo fim é um novo começo. Do pó nasceu, ao pó retornará. Esse é o dia que o véu fica mais fino, quando a comunicação entre os mundos é um pequeno fio de prata. Basta tocar para chegar até lá.

O sol está se pondo. Ao contrário da movimentação na cidade que já começou, as crianças vestindo fantasias e pedindo doces; a floresta está calma. Uma leve brisa faz as folhas se mexerem. Retiro meus sapatos e deixo meus pés tocarem o chão, sinto a terra úmida o acolhendo. 

Sento-me e fecho meus olhos e abro os braços, deixando as palmas para cima. Visualizo raízes saindo de meu tronco, descendo por minhas pernas, alcançando a terra. Minhas raízes, que sustentam todo o meu ser. Elas descem profundamente, adentram a terra e fazem seu caminho cada vez mais para baixo. Passam a terra, as rochas, a água. Cavam e cavam em busca do fogo que alimenta o centro da Terra. O fogo que dá vida, energia.

Sinto aquelas chamas aquecendo, subindo por minhas veias. Meu coração se acelera, um tambor dentro de mim. BUM BUM... O som ressoa em meus ouvidos. Minha caixa toráxica parece que vai explodir de tanta energia. A brisa não é mais fria em minha pele. Sinto que estou em chamas. 

Abro meus olhos cheia dessa nova energia milenar. Pego o tambor ao meu lado e começo a tocar suavemente, baixo. Devagar, aumento o som e bato no ritmo do meu coração. A floresta parece brilhar sob o sol poente.

O sol está abaixando. Deixo o tambor no chão e me levanto, erguendo as mãos para o céu. E as chamo. Chamo cada uma delas, cada pequena partícula que fazem parte de mim. Cada uma que já seu foi e deixou sua marca. Uma. Duas. Três... Milhares. 

As mulheres são jovens, mas todas têm cabelos longos. Alguns são brancos. Mas todos os rostos são jovens. Todas sorriem e dançam ao seu ritmo ao meu redor, me convidando a me juntar à elas. Sinto os puxões pelas raízes. Em seus olhares, posso reconhecer eu mesma. Cada mulher que criou e pariu. Cada mulher que derramou seu sangue. Tudo para eu nascer.

Não me sinto mais em meu corpo. Sinto algo ressoante em minha mente, fazendo meus membros se mexerem por vontade própria. É quase como se não tocasse o chão. Lágrimas descem por meu rosto. Elas me cercam em seu círculo de segurança e amor, lembrando-me de continuar. Lembrando-me da chama viva dentro de mim, que queima, que ânsia por paixão e vida.

Meus joelhos cedem e caiu deitada. Abro os olhos. Está escuro. Meu rosto está molhado. Meu coração bate depressa. E tudo que sinto é carinho e força. Estou sozinha. Elas se foram. Abro um sorriso. Estou sozinha, mas nunca só.


À todas as mulheres que encontram força todos os dias para lutar. A chama está acessa dentro de você. Deixe suas raízes te fortalecerem e chame suas ancestrais. A raiz é profunda e forte.

terça-feira, 13 de julho de 2021

terça-feira, 1 de junho de 2021

Resenha O nascer do amor - Série Jardim dos Girassóis

 



Sinopse: "O que fazer quando o direito de tomar as principais decisões sobre o futuro não está nas suas mãos?

Quando o filho mais velho entre quatro irmãos, João Gabriel, se vê responsável não só pela sua subsistência, mas, de toda a sua família, como ele vai decidir entre a responsabilidade e o amor?

Quando a jovem Ana Flor se depara com a consequência de suas próprias decisões, ela só pode esperar que o Amor que se enraizou no seu corpo e germinou, resista a ausência e a distância.

Neste primeiro volume da série, descobriremos que os sonhos românticos da adolescência, na melhor das hipóteses, servirão como uma base sólida para a maturidade.

E em outras…"

A resenha de hoje é de um livro de uma autora nacional, Luciana Oliveira! A primeira parte da série Jardim dos Girassóis, que contém três livros, gira em torno de Ana Flor, uma jovem de 15 anos, uma filha superprotegida pelos pais ricos e donos da maior fazenda da região; e João Gabriel, filho de um dos empregados do pai de Ana que acaba de chegar à cidade.

Só por esse trechinho vocês já sentiram a pegada do livro, não é? O nascer do amor é um Young Adult que tem tudo que você ama: um casal fofo, um amor que parece impossível, momentos de tirar o fôlego, momentos que dá raiva e você tem vontade de entrar no livro e dar uns tapas em certos personagens. É a receita perfeita! E a escrita da autora deixa tudo ainda melhor. Ela é leve e instigante, o que faz você querer devorar o livro e ao mesmo tempo não querer terminar a história.

O que mais cativa na história com certeza são os personagens principais, Ana Flor e João Gabriel. Ambos mostram uma maturidade para suas idades devido a situações que passam com suas famílias – apesar de bem diferentes – mas que os moldaram para ver o mundo além das aparências. E mesmo assim, de repente, eles se veem presos no primeiro amor, naquele frio na barriga que todo adolescente já passou um dia. Mas será que o amor de Ana e João é apenas um amor adolescente?

O livro também traz lindas mensagens de amor, família, superação e debates como abuso familiar, agressões e pensamentos antigos, como machismo, todos abordados de forma leve, mas que não perdem sua importância.

Para quem está procurando por aquela leitura deliciosa, cheia de romance e reviravoltas, não perca essa dica! E ainda estará enaltecendo a literatura nacional! Instagram da autora @lsoliveira80_escritora

Não deixem de me seguir no instagram @mavitartaglia

 


quinta-feira, 13 de maio de 2021

Crítica Shadow And Bone (Netflix)

 



Shadow and Bone foi anunciada com a promessa de ser a nova sensação de fantasia, chegando a ser mencionado que substituiria o vazio deixado por Game of Thrones. Lançada em 23 de abril pela Netflix, a série conseguiu cumprir o que prometia?

Sombra e Ossos é ambientada em um mundo que está em guerra, dividido por uma Dobra das Sombras, uma faixa de escuridão repleta de monstros sanguinários. Neste contexto, a jovem órfã Alina Starkov descobre um poder que seria capaz de finalmente unir os povos. Logo, ela é convocada pelo misterioso General Kirigan, conhecido como Darkling, para fazer da elite mágica Grishas e é exaltada como uma Conjuradora do Sol.

Começando pelos pontos positivos, eu achei genial adaptarem Six of Crows junto à trilogia Grisha principal. Em uma série adaptada, sabíamos que os episódios não iriam se focar somente na trilogia principal, o que deixava a dúvida de que história mais eles explorariam. Aproveitar os outros livros e já juntar personagens conhecidos e queridos pelos fãs foi uma boa jogada.

Mais do que isso: deixou o roteiro interessante. O núcleo dos Corvos foi MUITO bem escrito, muitas vezes roubando os holofotes para eles e deixando a história principal em segundo plano – infelizmente. Muito disso eu atribuo aos atores que entregaram atuações fabulosas em seus personagens, tornando-os interessantes, humanos e com várias camadas, deixando-os muito mais próximos do público. Muitas vezes me via pegando querendo continuar em suas jornadas do que na de Alina.

Outro ponto positivo da série foi o desenvolvimento de Mal que nos livros é bem raso, o que não o torna um adversário tão bom pelo coração de Alina. Mostrar o passado dele e Alina reforçou a ligação que eles possuem não só como amigos, mas o que fez eles se apaixonarem.

Os flashbacks com Darkling também ajudaram a entender melhor seu personagem e de onde vem sua jornada e porque ele adentrou o lado negro, por assim dizer (ainda não li todos os livros, então não sei como isso foi mostrado nas páginas).

Ben Barnes está bem em seu papel, dando o peso e charme necessário para seu personagem. Quero ver como irá se sair na segunda temporada com seu plot twist. Jessie Mei Li achei no começo meio travada, não muito confortável, mas depois foi ficando mais natural no papel.

Os efeitos visuais e fotografias são todos muitos bonitos e bem feitos. O problema da série está no roteiro que tem alguns problemas de desenvolvimento – o mesmo que vejo um pouco nos livros. Enquanto nos livros há um problema de desenvolvimento de background de personagens, no roteiro da série foram construção de situações. Momentos chaves, como a primeira vez que Alina usa seus poderes, sua demonstração de poderes no Festival, a batalha final ao atravessar a dobra, encontro com o cervo; todos, apesar de bonitos, ficou com um sentimento de que faltava algo à mais, principalmente para quem leu os livros. Não houve uma boa construção de momento de tensão, uma construção para que tornasse aquele momento memorável (e isso tira totalmente a comparação com Game of Thrones, afinal, ninguém nunca vai esquecer como Daenarys se tornou a Mãe dos Dragões).

Outros dois fatores importantes que faltaram na série e que para mim afetaram muito o desenvolvimento foram: desenvolvimento de Alina como Grisha e a história do Cervo. Alina passa um bom tempo no Pequeno Palácio e passa por diversos treinamentos que a faz entender o mundo Grisha, mas principalmente a si mesma e sua descoberta de como escondeu seus poderes por tanto tempo. Tudo isso é extremamente importante para a relação que desenvolve com o Darkling e Mal ao decorrer da série – inclusive uma cena cortada que ela discute com o Mal.

O segundo é a história do Cervo. Darkling conta para Alina, ela não sabia da existência desse ser místico. Esse momento é de EXTREMA importância para explicar a ligação de Alina e o Cervo e porque o “OSSOS” do título. Um diálogo que explica o quão complexo chega a ser isso e a que ponto chega maldade de Darkling.

Falo que esses dois fatores fazem falta porque isso modificou a batalha final, o que afeta muito Alina nos livros. A cena final, no fim, apresentou tudo o que eu esperava desde o começo: ser surpreendida com um momento bem construído.

A série promete muito com sua narrativa e atores, mas precisa acertar uns pontos para sua narrativa chegar em algo maior.

Mavi Tartaglia

Guardiões da Galáxia Vol. 3 - Uma despedida agridoce

  Guardiões da Galáxia Vol. 3 chegou nesta quarta-feira (04/05) aos cinemas para fechar a trilogia do grupo, dirigido e roteirizado por Jame...