sábado, 30 de outubro de 2021

Ancestrais

 


Música: Los Cuatro Elementos

É dia 31 de outubro. A noite que espero todos os anos. O dia dos mortos. Um ciclo sem fim. Tudo que começa tem um fim. E todo fim é um novo começo. Do pó nasceu, ao pó retornará. Esse é o dia que o véu fica mais fino, quando a comunicação entre os mundos é um pequeno fio de prata. Basta tocar para chegar até lá.

O sol está se pondo. Ao contrário da movimentação na cidade que já começou, as crianças vestindo fantasias e pedindo doces; a floresta está calma. Uma leve brisa faz as folhas se mexerem. Retiro meus sapatos e deixo meus pés tocarem o chão, sinto a terra úmida o acolhendo. 

Sento-me e fecho meus olhos e abro os braços, deixando as palmas para cima. Visualizo raízes saindo de meu tronco, descendo por minhas pernas, alcançando a terra. Minhas raízes, que sustentam todo o meu ser. Elas descem profundamente, adentram a terra e fazem seu caminho cada vez mais para baixo. Passam a terra, as rochas, a água. Cavam e cavam em busca do fogo que alimenta o centro da Terra. O fogo que dá vida, energia.

Sinto aquelas chamas aquecendo, subindo por minhas veias. Meu coração se acelera, um tambor dentro de mim. BUM BUM... O som ressoa em meus ouvidos. Minha caixa toráxica parece que vai explodir de tanta energia. A brisa não é mais fria em minha pele. Sinto que estou em chamas. 

Abro meus olhos cheia dessa nova energia milenar. Pego o tambor ao meu lado e começo a tocar suavemente, baixo. Devagar, aumento o som e bato no ritmo do meu coração. A floresta parece brilhar sob o sol poente.

O sol está abaixando. Deixo o tambor no chão e me levanto, erguendo as mãos para o céu. E as chamo. Chamo cada uma delas, cada pequena partícula que fazem parte de mim. Cada uma que já seu foi e deixou sua marca. Uma. Duas. Três... Milhares. 

As mulheres são jovens, mas todas têm cabelos longos. Alguns são brancos. Mas todos os rostos são jovens. Todas sorriem e dançam ao seu ritmo ao meu redor, me convidando a me juntar à elas. Sinto os puxões pelas raízes. Em seus olhares, posso reconhecer eu mesma. Cada mulher que criou e pariu. Cada mulher que derramou seu sangue. Tudo para eu nascer.

Não me sinto mais em meu corpo. Sinto algo ressoante em minha mente, fazendo meus membros se mexerem por vontade própria. É quase como se não tocasse o chão. Lágrimas descem por meu rosto. Elas me cercam em seu círculo de segurança e amor, lembrando-me de continuar. Lembrando-me da chama viva dentro de mim, que queima, que ânsia por paixão e vida.

Meus joelhos cedem e caiu deitada. Abro os olhos. Está escuro. Meu rosto está molhado. Meu coração bate depressa. E tudo que sinto é carinho e força. Estou sozinha. Elas se foram. Abro um sorriso. Estou sozinha, mas nunca só.


À todas as mulheres que encontram força todos os dias para lutar. A chama está acessa dentro de você. Deixe suas raízes te fortalecerem e chame suas ancestrais. A raiz é profunda e forte.

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